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  • Foto do escritorCamila Saraiva

Tabus da maternidade: pode uma mãe estranhar seu filho?

A maternidade é muito idealizada, romantizada, e alguns questionamentos são vistos como tabus graças a pensamentos arbitrários do senso comum como o famoso "instinto materno". Como psicóloga perinatal, trago o questionamento do título: pode uma mãe estranhar seu filho?


Sim, pois estranhar é o primeiro passo para de fato enxergar.


Convido você, leitor(a), a pensar em um relacionamento longevo e saudável seu, seja familiar, amoroso, amizade, o que for. Assim que conhecemos alguém, é comum criarmos, seja por expectativas elevadas ou pelo encantamento inicial, uma imagem distorcida dessa pessoa. Para relacionamentos próximos, íntimos, duradouros e amadurecidos, é preciso remover esse filtro para de fato nos relacionarmos com quem está diante de nós.


Isso acontece ao longo da nossa vida toda em diversos momentos. Por vezes não removemos esse filtro, e a relação se transforma, na verdade, em um grande desencontro. Mas estranhar, ver o outro como ele de fato é para então (re)conhecê-lo, é um passo que pode vir acompanhado de um pouco de choque, descontentamento, porém também de fortalecimento desse vínculo. Não mais nos relacionamos com uma ideia, mas com uma pessoa real.


Esse mesmo fato que tantas vezes ocorre na vida também ocorre com a mulher que acaba de se tornar mãe. Ela, que pode ter fantasiado este bebê durante anos antes dele de fato ser concebido e que foi sua primeira morada até dar a luz. Ela pode estranhá-lo para, então, conhecê-lo de fato. Esse estranhamento é natural. Ela podia esperar um bebê cabeludo, quieto, de um certo tamanho, do sexo oposto, e por aí vai. Ou então, quando o bebê é diagnosticado com alguma condição genética, alguma doença congênita, esse estranhamento pode ser ainda maior, pois tem um fator importante envolvido: um possível risco para a saúde dessa nova vida. Mães em nossa sociedade não são autorizadas a ter sentimentos ambíguos, medos, tristeza, e a falta de um lugar para esse momento ser confirmado e acolhido pode potencializar a dor. Mas não é preciso sofrer sozinha!

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